A Vertovina lembra dessa figura essencial do cinema francês no dia em que seria celebrado o seu aniversário de 139 anos.
Por Paola Orlovas*
Nascida Charlotte Elisabeth Germaine Saisset-Schneider, no ano de 1882, dentro de uma família da classe alta francesa, Dulac logo foi morar com os avós em Paris, enquanto seu pai viajava pela nação em deveres militares. A experiência trouxe a jovem o contato com a arte, a música, o teatro e a pintura, os quais ela jamais seria capaz de largar.
Foi na capital francesa que, após a morte de seus pais, a diretora viveu, casou e obteve seu sucesso. No ano de 1905, Germaine adotou o sobrenome de seu novo marido, Louis-Albert Dulac, e passou a buscar por novas oportunidades dentro de suas maiores paixões.
Apenas quatro anos depois, Dulac tornou-se crítica de teatro da revista feminina La Française e escritora do jornal feminista La Fronde, mas seus interesses nas artes iriam muito além de suas capacidades jornalísticas, e a curiosidade fazia com que sempre buscasse por novos horizontes e inspirações.
Quem abriu as portas do mundo da sétima arte para ela, apenas jornalista naquele momento, foi uma amiga, chamada Stacia Napierkowska, atriz e dançarina dona de uma filmografia extensa, contando com mais de 80 créditos em filmes. Foi a partir de uma viagem pela Itália com a amiga durante o eclodir da Primeira Guerra Mundial que Germaine descobriu o básico da produção cinematográfica.
Na volta, Dulac resolveu abrir uma produtora com o auxílio financeiro do marido, e assim nasceu a D.H. Films, também conduzida pela escritora Irène Hillel-Erlanger. Diversos filmes foram produzidos no breve período entre os anos de 1915 e 1920, todos dirigidos pela antiga crítica de teatro e escritos pela outra dona da produtora. Dentre eles, estão Vénus Victrix (seu primeiro filme, de 1916) e Géo, le mystérieux (1916).
Âmes de fous, ou O Castelo Maldito (1918), um melodrama, teria sido seu primeiro sucesso, e também trouxe a estreia da atriz belga Ève Francis para o cinema, que apresentou Dulac para um cineasta impressionista chamado Louis Delluc. Dulac, ao lado de Delluc — nomes que caem bem juntos — trabalharam lado a lado em outro projeto, um longa raríssimo, chamado La Fête espagnole, ou A Festa Espanhola (1920).
Foi em 1920 que se divorciou, e também entrou em um relacionamento com uma diretora, Marie-Anne Colson-Malleville, que produzia documentários sobre a Algéria. O relacionamento das duas, que durou a vida toda, trouxe outra influência para a carreira de Dulac, que passou a fazer curtas documentais.
A experiência documental e impressionista de Germaine a trouxe um conhecimento incrível, que fez com que fosse capaz de criar filmes tanto com apelo comercial quanto pré-surrealistas — o movimento dentro do cinema não se deu até anos mais tarde, mas seria trazido por ela — como La Souriante Madame Beudet (1922) e La Cigarette (1919).
Foi em 1928, pouco mais de uma década desde o lançamento de seu primeiro filme, que a realizadora estreou o movimento surrealista dentro do cinema, com o aclamado longa La Coquille et le Clergyman, conhecido como A Concha e o Clérigo, tratando do bloqueio do desejo de um jovem clérigo por uma mulher casada com um general.
Apesar de pouco reconhecida, Germaine Dulac foi uma grande teórica do cinema, que fez mais de 30 filmes. Para além do título de mãe do surrealismo, também recebeu o de única mulher dentro do cinema impressionista francês. Seus trabalhos são essenciais para compreender a vida da mulher francesa nos séculos 19 e 20, mas também para conhecer o cinema experimental que era feito na França no período.
*Paola Orlovas é a idealizadora da Revista Vertovina. Estuda Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, onde faz Iniciação Científica e integra o Grupo de Pesquisa Comunicação, Cultura e Visualidades. Se interessa por estudos dentro dos campos da Imagem, da Estética e da História da Cultura, com foco em vanguardas artísticas do século XX, fotografia e União Soviética.
Referências:
– As Cineastas do Cinema Fantástico: Germaine Dulac, de Filippo Pitanga, para o Almanaque Virtual;