O Renascimento de Jennifer’s Body

Assim como o arco da protagonista, Jennifer ‘s Body morreu pelas mãos de homens e renasceu com o sentimento de pertencimento do público feminino. Entenda como o filme foi considerado uma obra trash na época de seu lançamento e, quase dez anos depois, foi considerado um clássico cult de horror feminista.

Por Malu Bolanho*

Após ser oferecida como sacrifício por uma banda indie e possuída por um demônio, Jennifer Check (Megan Fox) começa a aterrorizar seus colegas. Depois de seduzi-los, ela os mata e se alimenta do corpo desses garotos. O filme foi lançado em 2009, escrito por Diablo Cody, dirigido por Karyn Kusama e estrelado por Megan Fox (Jennifer Check) e Amanda Seyfried (Needy).

A audiência recrutada para o filme era de garotos adolescentes e jovens universitários, logo, a estratégia de marketing foi voltada para esse público. Entretanto, Jennifer´s Body é uma obra feminista, que ao ser revisitada anos depois, atingiu seu verdadeiro público alvo.

Para entender o lançamento do filme é preciso contextualizar o histórico de Diablo Cody e Fox. Diablo Cody havia acabado de ganhar um Oscar por ‘Juno’ e era considerada pela mídia uma roteirista de apenas um sucesso, enquanto Megan Fox era constantemente objetificada em seus trabalhos tanto pelo público quanto por diretores homens, como ocorrido em sua aparição na franquia ‘Transformers’, dirigido por Michael Bay.

E então, o filme de terror com um toque de comédia nasceu. Antes mesmo de ser lançado, já havia diversas críticas que consideravam o filme ‘trash’, sexual demais ou de menos e um ‘delírio de grandeza da roteirista de um sucesso’. As críticas positivas eram minoria, quase inexistentes.

Megan Fox afirma que, apesar de orgulhosa de seu trabalho, não conseguia visualizar o filme fazendo sucesso e estava pronta para os ataques. Ela relata em entrevista para o The NY Times, “O filme é sobre uma líder de torcida canibal lésbica que se alimenta de homens, e isso basicamente elimina metade da América. Obviamente é um filme girl power, mas é também um filme sobre como garotas podem ser assustadoras”

Combustible Celluloid escreveu uma crítica que demonstra a decepção por as mulheres permanecerem vestidas durante o filme. “Jennifer’s Body não é engraçado, nem sexy (as garotas se mantém vestidas)”

“Jennifer´s Body is not funny, nor is it sexy (the girls keep their clothes on).”

Assim como o arco da protagonista, Jennifer ‘s Body morreu pelas mãos de homens e renasceu com o sentimento de pertencimento do público feminino. Diablo Cody afirma em entrevista para a ET Live, “Eu ouço mais sobre esse filme do que sobre qualquer outro projeto que já trabalhei”.

Em 2009, NY Times adicionou o filme na lista de “melhores filmes de terror dirigidos por mulher”, Syfy Wire afirmou que o filme ainda era socialmente relevante e, com a mudança de olhar da crítica, o público também mudou a maneira que via o clássico.

Muitos afirmam que o filme, de maneira indireta, toca em diversos problemas das mulheres na sociedade e de mulheres inseridas na indústria cinematográfica, como a própria sexualização que Megan sofreu na vida real, a questão da competição feminina, sexualidade, atração homoafetiva e abuso sexual. Um filme que trata de temas delicados com maestria, gore, ironia e suspense mereceu a releitura do público assim como dos críticos.

Sobre o autor: Estudante de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, se interessa pelas intersecções entre os campos das Ciências Humanas e estudar processos de expressão cultural por meio da arte. É Diretora Interna e Colaborada da Razcon. O cinema sempre foi algo muito importante por causa do contato com novas realidades e percepções que ele traz. Considera a Vertovina um espaço essencial para a reflexão dos leitores sobre as nuances do cinema e seu papel artístico, social e político.

Fontes:

https://www.nytimes.com/2009/09/06/movies/06oran.html

https://www.youtube.com/watch?v=u2JLRtWlq0o

https://www.sonomanews.com/article/entertainment/time-to-exhume-jennifers-body-from-trash-to-cult-status/

https://www.vox.com/culture/2018/10/31/18037996/jennifers-body-flop-cult-classic-feminist-horror

https://www.nytimes.com/2009/11/15/magazine/15Fox-t.html